Injeções de vitaminas diretamente na veia é moda ou tem justificativa clínica?



A tendência de injeções intravenosas de vitaminas, embora esteja se tornando uma prática usual em alguns consultórios médicos que prometem emagrecimento, apresenta muitos riscos, desde infecções, até problemas hepáticos e renais pela propensão a toxidade.

Uma prática que se tornou muito popular na Ásia e divulgada por influenciadores nas redes sociais, mas é realmente necessária?

Embora quem propague injeções de vitamina diretamente nas veias afirme que a prática aumenta a energia, fortalece o sistema imunológico, melhora a pele, cura ressaca, queima gordura, evita o jat lag e cura uma miríade de outros problemas, até o momento não há nenhuma base científica que sustente a necessidade e benefícios do uso de tais injeções para individuos saudáveis sem deficiências nutricionais associadas.

Risco de infecções

A médica Marcela Fiuza, da Associação Britânica de Nutrição (BDA), alerta que "Os tratamentos estão se tornando cada vez mais populares, mas, além de não haver nenhuma evidência de que tragam benefícios, eles são potencialmente perigosos".

O perigo mais imediato é infecção, diz a nutricionista Sophie Medlin, especialista em alimentação intravenosa. "Sempre que injeta algo em seu corpo, você está correndo o risco de infecção a partir do local onde foi feita a injeção". E finaliza dizendo: "Simplesmente não há nenhuma justificativa médica para administrar nutrição na veia a não ser que haja falha intestinal, porque o risco é muito alto."

Risco de Toxidade Hepática e Renal

É fato que infusão de vitaminas em pessoas sem necessidade médica específica pode potencialmente colocar o fígado e os rins sob estresse. No Reino Unido, dar esse tipo de injeção sem examinar o fígado e os rins antes é proibido pelo NICE, o instituto nacional de excelência clínica do país.

"Essa precaução não está sendo tomada na maioria das clínicas que eu vi oferecendo injeção de vitaminas", diz Sophie Medlin.

As vitaminas normalmente são recebidas aos poucos, misturadas em uma bolsa de soro fisiológico. O que vai nessa bolsa varia ao redor do mundo.

O que vem ocorrendo no mundo é algo assustador.  Em Londres, além de injeções "detox" e de "beleza", uma loja oferece vitaminas para "melhorar o humor". Há uma injeção chamada "Magic Markle", em homenagem à duquesa Meghan Markle, banalizando a prática o que é altamente perigoso e preocupante. 

No Brasil, há muitos relatos de pacientes que são direcionados para injeções com altas dose de vitamina D, ferro e B12, logo ao final de consultas médicas, com a sugestão de que são necessárias para emagrecimento ou reforço do sistema imunológico, algo que foge dos protocolos de saúde.

A nutricionista Sophie Medlin se diz chocada com isso,  ela afirma que injeções intravenosas não deveriam jamais ser administradas sem um contexto clínico que confirme a sua real necessidade. "É um procedimento de alto risco, especialmente em pessoas jovens e saudáveis que nunca fizeram exames de nível de hidratação ou distúrbios metabólicos", diz ela.

As vitaminas podem ser solúveis em água ou em gordura. As que são solúveis em água, vitaminas do complexo B e a vitamina C, são rapidamente usadas pelo corpo e o excesso é excretado pela urina. São largamente e facilmente encontradas em frutas e vegetais.

E temos as vitaminas lipossolúveis  (A, D, E e K), que sendo armazenadas no fígado e nos tecidos adiposos e têm maior chance de se acumularem no corpo e causar toxidade, levando a envenenamento por vitamina.

Hipervitaminose é algo que pode ocorrer facilmente por quem toma altas doses sem necessidade. 

Lisa Rogers, Diretora técnica da OMS (Organização Mundial de Saúde), diz que as pessoas estão exagerando no uso de vitaminas. "Elas acham que as vitaminas vão lhe dar algum tipo de vantagem. Mas as pessoas só necessitam de vitaminas em pequenas quantidades, e só devem usar suplementos extras em caso de terem alguma deficiência de vitamina comprovada", diz ela. Injeção de vitamina na veia pode significar que as pessoas "estão recebendo uma quantidade excessiva de nutrientes, o que pode levar implicações para a saúde, em particular para quem o faz regularmente ou já tem problemas de saúde", alerta ela.

É certo que, para a maioria das pessoas, uma alimentação saudável é suficiente para oferecer todas as vitaminas necessárias. Forçar a entrada de vitaminas no corpo pelas veias coloca as pessoas em sério risco de super dosagem, quando o excesso não é excretado.

Sophie Medlin finaliza dizendo: "A administração intravenosa força as vitaminas em nossa corrente sanguínea. E provavelmente pelo menos 90% do que está sendo administrado será excretado nas fezes e urina. Então os benefícios, se houver, serão mínimos, e os riscos superam em muito os benefícios [...], você apenas está fazendo uma urina muito cara. É como jogar dinheiro na privada."

Fonte: NHS (National Health System, o sistema nacional de saúde do Reino Unido)

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